Esse post foi publicado 03 de outubro de 2013 às 15:22 e está arquivado em Textos. Você pode acompanhar quaisquer respostas a esta entrada através do RSS 2.0 feed. Você pode deixar uma resposta, ou trackback de seu próprio site.
Tudo resolvido: a raposa cuidará do galinheiro
Arnaldo Mourthé
Faz cinco anos que aventureiros do sistema financeiro americano mergulharam o mundo em uma crise deflagrada pela inadimplência dos tomadores de empréstimos para a compra de casas. Depois da quebra de alguns bancos e trilhões de dólares despejados nas empresas pelo governo americano, para recuperar setores estremecidos pela recessão, a crise teria sido vencida se ela fosse apenas o resultado do evento relatado acima. Mas não é. Ela tem múltiplas influências e se manifesta em cada país de forma diferente, em função de suas peculiaridades.
Entretanto, sua causa primeira é um fenômeno muito conhecido dos estudiosos da economia, que é cíclico e produzido por uma contradição no modo de produção capitalista, que é relativamente simples. Quando o capitalista coloca à venda uma mercadoria, seu preço (ou valor) é maior que o dinheiro que ela custou, ou seja, que ele devolve ao mercado a título de pagamentos de despesas de produção, incluídos salários e tributos, pois o lucro fica com ele.
Para o escoamento total da mercadoria é preciso recorrer a um valor externo ao sistema, correspondente ao lucro retido, para equilibrar oferta e demanda. Nos primórdios do capitalismo sua produção era pequena comparada com o total produzido pela sociedade. Isso permitia ao capitalista vender parte de sua produção fora do sistema e, assim, reter o lucro. Na medida do crescimento do sistema, os outros modos de produção foram cedendo seu lugar ao capitalismo, obrigando o capitalista a colocar seus lucros no mercado, em despesas pessoais, investindo-o ou emprestando-o ao consumidor. Mas há sempre limites a essas aplicações, especialmente ao empréstimo, pois o tomador acaba por tornar-se inadimplente.
Dessa forma, mais cedo ou mais tarde o sistema entra em crise, que se manifesta periodicamente, gerando ciclos. Podemos citar as mais importantes: 1810, 1847, 1873, 1900, 1907, 1913, 1929, 1957, 1981, 2008. Em toda crise há concentração de capital quando as empresas mais fortes compram as mais fracas. Mas isso não basta para superar a crise. É preciso dissipar a produção, ou seja, criar mercado artificial ou destruir parte dela, eliminando o estoque não vendável. Para isso a solução é o Estado investir em obras que não serão vendidas, ou em “não mercadorias”, enquanto geram demanda pelos recursos colocados no mercado para sua realização. Foi o que Roosevelt fez a partir de 1933. A outra solução, a mais eficaz e radical, é a guerra, que destrói a infraestrutura, imóveis e benfeitorias, e os próprios equipamentos destrutivos, que por seu lado são produzidos por empresas capitalistas e geram lucro. É por isso que temos tido tantas guerras que já mataram mais de 200 milhões de pessoas. Elas são um bom negócio para os grandes capitalistas.
Qualquer dessas soluções produz o endividamento público, que é crescente, na medida em que a economia se agiganta e com ela as crises tornam-se cada vez maiores e mais graves. O endividamento público sistêmico, que antes atingia apenas os países mais industrializados, foi-se alastrando nos países menos capitalizados, onde provocam recessão, desemprego e deterioração dos serviços públicos, o que já está evidente na Europa e já se manifesta setorialmente no Brasil.
A compreensão desse fenômeno, como relatado acima, mostra que durante séculos a burguesia capitalista é produtora das crises e, ao mesmo tempo, os grupos mais ricos dela são os maiores beneficiários das próprias crises que ela produziu, comprando empresas falidas por migalhas e recebendo subsídios dos governos para manter sua produção, sob a alegação de manutenção de empregos e de crescimento da economia, como vem acontecendo no Brasil com a indústria automobilística e outras. Enquanto isso, os serviços públicos são deteriorados, quando poderiam gerar mais empregos e maiores benefícios que essas indústrias.
Mesmo assim os governos brasileiros de Fernando Henrique e Lula entregaram a condução da nossa economia aos grandes grupos financeiros internacionais, levando o Brasil à situação de grandes dificuldades, já evidentes. Mesmo assim, Dilma se lança em um projeto de venda das nossas riquezas como nunca visto, entregando tudo que ainda nos sobrou, sob a alegação de amealhar dinheiro para superar a crise que se agrava. Entretanto, o que ela faz é entregar nossos ativos, que bem administrados nos permitem superar nossas dificuldades, ao mesmo capital financeiro internacional causador de nossos problemas. Busca no nosso inimigo nossa salvação, o que só pode acontecer pela capitulação, ou seja, deixar-se dominar pelo inimigo. É nesse quadro de submissão de seus governos que a sociedade brasileira vai-se degradando, ao ponto de sua polícia espancar os professores de seus jovens e de suas crianças.
É preciso tomar consciência de que não há solução para nossos problemas enquanto estivermos subordinados aos ditames do capital financeiro, que nos impôs o modelo econômico que nos massacra, graças à corrupção e à mais brutal campanha de alienação de nossa população, só menor que a adotada por Hitler. Vender nosso patrimônio nos faz mais fracos enquanto fortalece nosso inimigo que o compra.
Não ao leilão do Pré-sal! Não à privatização dos nossos sistemas de transporte!
Defendamos nossa soberania e a liberdade de nossa gente!
Rio de Janeiro, 03 de outubro de 2013
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