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Queremos uma sociedade de Paz e Fraternidade
“Querer é poder”
Arnaldo Mourthé
Estamos vivendo um momento de estranha calmaria social, com pequenas turbulências, produzidas pelo poder e pelos marginais que esse e outros poderes que o antecederam criaram. Nossa sociedade virou um teatro, melhor dizendo, um grande circo onde uma plateia perplexa assiste a um espetáculo de bufões, ora rindo, ora vaiando, raramente aplaudindo, pois decepcionada com o desempenho dos “artistas” do picadeiro suntuoso, mas decadente.
O espetáculo cai nas raias do ridículo quando o presidente da República se lança candidato, tendo mais de 70% de desaprovação contra 5% de apoio. E tenta convencer seu ministro das finanças a ser seu vice, logo ele que exigiu a destruição dos direitos dos trabalhadores, tentou destruir a Previdência Social e paga todos os dias dois bilhões de reais aos banqueiros, metade em dinheiro vivo, arrancado de uma população carente, e metade em novos títulos da dívida pública que só cresce e faz crescer a sangria da Nação.
A encenação envolve a grande mídia, que esconde a verdade e falseia informações, em retribuição à farta publicidade dos bancos, e das empresas estrangeiras e do agronegócio, que exportam produtos primários, dentre os quais o alimento que falta aqui para o pobre, arrecadando dólares que nem chegam a entrar no país, pois em grande parte é destinado a transferir lucros do capital estrangeiro obtidos em negócios e nos juros das dívidas pública e privada. Essas sangrias dos cofres do Estado e da Nação levam a duas consequências imediatas: à demolição do aparelho de Estado e dos seus serviços, e à alienação de estratégicos e valiosíssimos patrimônios públicos, o que faz do capital estrangeiro o maior poder no Brasil, inclusive maior que o Estado, pois o controla através da corrupção de governantes.
Essa é a sociedade que temos. Um amontoado de pessoas trabalhando, diuturnamente, quando conseguem emprego, para sobreviver e alimentar os cofres públicos com mais de um terço do nosso Produto Interno Bruto. Dos cofres da União escorrem metade de tudo que é arrecadado para distribuir aos bilionários daqui e do exterior, enquanto o buraco por onde vazam esses recursos só cresce com o aumento da dívida pública, em mais de 10% ao ano.
Essa sociedade, além de já injusta, está se tornando mais perversa. Ela se desmantela em um processo de regressão jamais visto na história da humanidade. Mas isso não acontece por acaso, nem é um fenômeno histórico recorrente como as crises anteriores do capitalismo, que trouxe sofrimento, não apenas pelo desemprego, a miséria e a fome. Pois elas foram a força motora de todas as guerras que aconteceram na Europa a partir de 1810 e depois se espalharam pelo mundo em guerras coloniais, culminando com as duas guerras mundiais do século XX.
O que estamos assistindo no Brasil é algo mais devastador. É uma ocupação maquiada por diversos artifícios, inclusive de alta tecnologia, que visa a dominação completa do Brasil tornando-nos uma colônia de novo tipo, uma colônia do capital financeiro, onde tudo pertence a poucos e a grande maioria da população será mão de obra mal remunerada numa sociedade de apartheid social, muito mais cruel que o da África do Sul ou que a escravidão brasileira. Na sociedade escravista o senhor via o escravo como seu patrimônio e como tal cuidava dele, mantendo-o vivo e em condições de trabalhar para fazer crescer sua riqueza. Na que se pretende criar nem todo trabalhador será empregado. Restarão milhões como já existem, jogados à marginalidade pelo desemprego, para competir com aquele empregado, fazendo com que este aceite condições desumanas de trabalho.
Para que isso se viabilize sem revolta eles usam da repressão e incutem o medo na população. Utilizam para isso, além dos órgãos de repressão, e principalmente, a mídia corrompida para criar uma realidade fictícia que nos ilude, confunde e acomode, na esperança de um milagre que nos venha salvar da sanha dos que nos dominam. A cada fase do processo mudam o espetáculo para nos distrair e confundir. O espetáculo da corrupção é o maior deles. Curiosamente os maiores criminosos são poupados, mesmo que eles sejam visíveis, pois eles ocupam a Praça dos Três Poderes, o palco mais filmado do Brasil. O “crime organizado”, como eles chamam os traficantes de drogas, que a comercializam no varejo, foi transformado em outro espetáculo para nos distrair e, ao mesmo tempo, nos amedronta pelo aparato militar envolvido. É como usar um guindaste para levantar um prato ou um livro. A questão operacional das drogas está fora do Brasil e nas nossas fronteiras. Está nas organizações criminosas da sua produção e seu tráfico internacional. O nosso problema começa nas fronteiras, por onde elas e as armas de guerra entram. Nem uma nem outra coisa é produzida aqui dentro. O resto é manipulação para justificar a repressão e espalhar o medo.
Já agora, vêm com outro espetáculo, do qual já falamos acima: a eleição presidencial, como se eles a quisessem, o que não é verdade. Só se for para ser fraudada. Para isso não querem aplicar a lei que determina o voto impresso, que pode ser verificado, dificultando a fraude. Mesmo com ele a fraude pode ocorrer na totalização eletrônica, pois nem os segredos de Estado dos EUA estão a salvo, Veja o caso Snowden.
Visto esse quadro, sobre o qual já me debrucei demoradamente em dezenas de publicações, vamos à questão principal: que sociedade nos serve e nós queremos? Vou sugerir como roteiro três palavras, muito conhecida de todos nós: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, as legendas da Revolução Francesa. O que elas representam e o que elas têm a ver conosco. Vamos lá:
Liberdade – Ela é o nosso poder de escolha, de decisão. Eu faço ou não faço. Eu quero ou não quero. Ela é o instrumento que nos confere o poder de criar. É por isso que criamos. Mas, também, nos dá o poder de destruir. É por isso que podemos destruir. Seu uso adequado nos faz criadores e cidadãos. Seu mal uso nos faz predadores ou lacaios.
Igualdade – Ela é uma condição. Ser um homem ou ser um coelho é uma condição. Na sua essência um homem é igual a outro homem. O mesmo ocorre com o coelho. Na aparência somos diferentes, o que chamamos diversidade ou individualidade. Na essência somos iguais. A ciência identifica essa igualdade pelo DNA. Cada espécie tem um DNA diferente, e uma grande variedade de genes que diferem um indivíduo do outro. Mas o homem, além do DNA, tem outra característica que o define e o distingue dos outros animais. Os filósofos a chamam de razão. Isso é verdade, mas apenas em parte. O homem tem outra distinção em relação aos animais, um “selo”, que os espiritualistas chamam de Chama Crística, que é desconhecida da maioria das pessoas, pois é alheia a nossa cultura dominante, tanto é que não consta do dicionário Aurélio.
Fraternidade – Ela é o afeto entre irmãos, amigos ou membros de uma comunidade. No espiritualismo ela é uma virtude fundamental, fruto do amor incondicional, pregado pelos budistas e pelos cristãos primitivos, que os novos cristãos chamam de “amor ao próximo”.
A sociedade que aí está desmoronando foi estruturada e é dirigida por uma “casta de senhores” que não reconhecem nenhuma dessas virtudes, com exceção da liberdade, mas apenas para eles próprios. Dessa forma sua tendência é para a tirania. Nela só o tirano é livre. Aquele que faz as leis para os outros cumprirem, enquanto ele faz o que bem quiser, incluindo mudar as leis que não lhe interessam. É dessa forma que a casta que dirige o Brasil está agindo. Ela é dominada por uma casta menor, mas muito mais poderosa, que controla as finanças e as grandes potências. Se os governos que a contrariam além de certo limite ela os destituem. Fazem isso por toda parte, até pelo assassinato. Aqui levaram Getúlio ao suicídio, derrubaram Jango com um golpe militar e Dilma como um golpe parlamentar.
A fase atual desse processo é o ataque final para transformar o Brasil em uma colônia como descrito acima. Enquanto isso, nós das classes médias, alguns nomeados intelectuais, juristas, filósofos, cientistas sociais, economistas e tantos títulos mais, nos acomodamos no nosso “conforto”, que nem sempre o é. A maioria, desorientada, enfrenta dificuldades incontáveis e são iludidas pela “casta” perversa que domina quase tudo pela corrupção. Chegou a hora de exigirmos nossos direitos sintetizados nas três palavras expressas acima, Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Se continuarmos no nosso precário conforto, só um milagre nos salvará. Sobre isso venho escrevendo há duas décadas. Meus mais recentes livros, que tratam com minúcias todas essas questões, foram editados pela Editora Mourthé e podem ser adquiridos pela internet. É o que pude fazer de melhor para enfrentar essa tragédia que aflige a todos os brasileiros. Se quisermos superar isso que está aí precisamos nos conscientizar e agir. Querer é poder.
Rio de Janeiro, 27/03/2018.
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