Saber querer


Saber querer

Arnaldo Mourthé

Todos nós sempre queremos alguma coisa. Sobretudo quando atravessamos situações difíceis. Aí nosso querer é forte, o de superar as condições que nos afligem.  Eu bem gostaria de morar em um sítio tranquilo, com jardim, pomar, um regato cantando, fazendo o contraponto aos passarinhos. Dispensaria a televisão, embora ainda existam alguns programas que nos informam coisas interessantes e nos divertem com arte e bom gosto. Mas para ficar livre da televisão controlada pela propaganda desnecessária ou enganosa, cuja finalidade é nos alienar, eu a dispenso com prazer.

Querer é fundamental para todos nós. O contrário, o não querer, é sempre um problema. Algo de errado se passa conosco. Mas, o simples querer pode ser traiçoeiro, quando se trata de conseguir coisas que estejam distante de nossas possibilidades. Pior ainda é o falso querer. Aquele que nos é incutido pela publicidade, ou outra má influência que não nos pertence e que pode ser uma armadilha. A de orientar nosso pensamento para o desnecessário ou o inalcançável. Isso nos desorienta e nos impede de centrarmos nossos esforços naquilo que é de nosso interesse e de nosso direito. Pois é amigo, estamos todos atolados no falso querer. No querer ilusório. No devaneio ou no desespero que tantos de nós vivem no presente.

Pois é isso aí. Eu talvez não alcance o sítio dos meus sonhos, mas cultivo o meu querer em um Brasil que seja aquilo que todos sonhamos. Cada um imagina-o à sua maneira, em função da sua natureza, da sua cultura regional, de sua vocação, do seu modo de ser enfim. Mas todos, isso é o que penso, querem um país justo e fraterno, acolhedor como é a natureza do seu povo. Mas é necessário enfocar como poderá ser esse país. Somos mais de duzentos milhões de seres, de várias origens, mestiços, de todas as raças e múltiplas etnias e culturas, todos à busca deste “país do futuro”. Esse futuro está sendo protelado por quinhentos anos. Mas ele pode ocorrer amanhã, não no sentido dos dias, mas do curto espaço de tempo. Aquilo que é hoje a nossa perplexidade, para quase todos, ou a desesperança para muitos, pode ser apenas o sinal de que chegou a hora de conquistarmos o nosso futuro, aquele que queremos.

Mas nesse futuro, de cada um, deve caber o futuro de todos. Não o conseguiremos com o egoísmo, que deformou a sociedade que construímos com nosso amor, nosso esforço e nossa competência. O ego tem sido o nosso maior inimigo, escondido dentro de nós mesmos. Ele é manipulado por outros egos, esses poderosos no plano material, donos do dinheiro e de tudo que ele pode comprar. E está comprando quase tudo. A consciência das pessoas, se é que elas a possuíam, e nossa própria vontade, nosso querer, através da alienação de uma mídia mercenária, que só faz defender os interesses desumanos dos poderosos, que controlam a economia e o poder político. A economia, construída com nosso trabalho, e o poder político, conquistado com nossos votos, estão sobre controle de egoístas, e voltados contra nós.

Não há querer individual que se sustente em um quadro como esse. A não ser que ele seja um querer egoísta que, em troca de pequenos privilégios, nos faça aceitar esse poder tirânico que tenta liquidar nossa Nação. O filósofo e linguista americano Noam Chomsky disse que o poder que hoje nós chamamos de democracia, não passa de um poder unilateral das elites, consentido por nós. Isto é, o poder que nos obriga e nos oprima é consentido por nós mesmos. Da nossa ilusão de que ele nos representa advém o poder que nos oprime, que nos leva à pobreza, à discórdia e a conflitos diversos, inclusive à guerra, nas quais morremos.

Tudo isso nos leva à necessidade de que nosso querer deve ser autêntico, corresponder às nossas necessidades humanas, não apenas materiais, mas também espirituais. Para que assim seja é preciso que nosso querer seja coletivo, o querer de todos, e que ao mesmo tempo nos permita não apenas nosso querer pessoal mas, também, alcançarmos sua realização.

Esse querer é possível se conseguirmos alcançar uma sociedade organizada nos moldes do modelo de República concebido por Rousseau, onde ela se apresenta como a vontade geral dos cidadãos. Não temos que inventar muita coisa. Os grandes pensadores, filósofos, líderes religiosos e cientistas,  pensaram por nós e nos presentearam com seus pensamentos. Cabe-nos conhecê-los e aplicá-los com critério. Para isso é preciso que conheçamos esses pensamentos. Eles estão à nossa disposição nas livrarias e nos são transmitidos por diversas fontes, mas nós não damos muita importância a eles, mesmo até os menosprezamos. A mídia avassaladora desvia nossa atenção para as futilidades e nos incute a desinformação. É preciso que tenhamos consciência disso e mudemos nossas referências, em matéria de conhecimento e do que está a nosso favor ou contra nós.

De minha parte já defini o meu querer principal: um Brasil de Paz e de Fraternidade. Convido a todos que queiram esse novo Brasil a pensar nele, como ele deve ser e como alcançá-lo. O que não podemos é aceitar a mistificação, aceitar tudo que nos é imposto por uma casta despudorada, impatriótica e aliada ao que a humanidade produziu de pior em toda sua história, o capital financeiro internacional.

Rio de Janeiro, 29/11/2017.

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