Na beira do abismo


Na beira do abismo

Arnaldo Mourthé

            O Ministro da Fazenda se apresentou ontem na televisão, com pompa e circunstância, para informar sobre o aumento do déficit do orçamento da União para este ano. São mais 20 bilhões de reais a serem acrescentados aos 139 bilhões já previstos. Ele passa, assim, a ser de 159 bilhões, valor a ser acrescido à dívida pública federal, já impagável, de mais de três trilhões de reais. Esta torna o povo brasileiro escravo de um compromisso que não assumiu e do qual nada usufruiu.  Com isso sobem os juros a ser pagos no próximo ano, que já consomem cerca de 50% do orçamento da União. Essa é a razão pela qual falta dinheiro para tudo, para a saúde, para a educação, para pagar o funcionalismo e para os investimentos essenciais ao bom funcionamento da sociedade e da economia.

Quando ainda criança, eu ouvia dizer, em momentos de dificuldades diversas, em especial quando os preços dos produtos essenciais subiam no armazém, que o Brasil estava a beira do abismo. Mas, ao lado do pessimismo que gerava essa expressão, havia a contrapartida bem humorada de dizer que não havia abismo tão grande que coubesse o Brasil.

O tempo passou e junto com ele as idas e vindas das condições das pessoas e do seu humor. Até que, naquele tempo de minhas infância e adolescência, as coisas se  acomodavam de uma forma aparentemente natural. As escolas se multiplicavam e o nível cultural das pessoas ia subindo. O país se industrializava e as oportunidades de trabalho se diversificavam e aparentemente ganhava-se em qualidade de vida. Mas nem em todos os aspectos. Também ocorria uma urbanização acelerada sem os devidos cuidados de quem parece não saber bem o que fazer e como fazer. Mas tudo em um ritmo que permitiria no futuro, na medida de novos conhecimentos adquiridos, consertar os erros reduzindo suas consequências.

Mas veio o tempo do Brasil grande, apregoado pelos militares. Tudo precisava ser grande a qualquer custo. O ministro Delfin amenizava as consequências de sua política anti-social, de arrocho salarial, com outra expressão de marqueteiro: é preciso fazer crescer o bolo para depois dividi-lo com todos. De engodo em engodo, não sem uma brutal repressão para frear os mais ousados, foi-se levando o Brasil, cada vez mais próximo do abismo tão temido por nossos antepassados.

O projeto dos militares não deu certo. Criaram mais problemas que soluções. Permitiram a intromissão de potências e corporações estrangeiras nos nossos assuntos internos. Mas a população, que conheceu o lado repressivo da ditadura, não chegou a perceber que o seu fim não seria uma solução para o caminho tortuoso pelo qual empurravam o Brasil. A chamada Nova República, não era nova, nem República, mas um arremedo de democracia de fachada para um projeto maior de espoliação do Brasil. Montou-se um sistema partidário e de financiamento das eleições que afunilava o acesso ao Congresso dos que defendiam os direitos do cidadão. Formou-se um poder corrompido, que só poderia servir a quem pode corromper. Aquele que dispõe de dinheiro ou poder político. As coisas foram se ajeitando a favor de elites inescrupulosas e seus sócios estrangeiros, donos do grande capital.

Um esnobe senhor, com ar de nobreza, título universitário e conhecido com FHC, assumiu o poder como um barão do café, com soberba e desprezo pelo país e seu povo. Sua tese era a da dependência: desenvolver o capitalismo dependente das nações metropolitanas. Uma forma nova de colonialismo ensinado pelos neoliberais, com o título de globalização.

A partir daí foi a festa do investidor estrangeiro. Para afagá-los foi elaborado um modelo econômico que oferecia todos os favores ao capital estrangeiro, inclusive o endividamento público, com juros muito acima do razoável, para permitir a entrada de capitais especulativos, gerando divisas para a exportação de juros e lucros das multinacionais.

A população reagiu e elegeu o candidato da oposição, Lula. Mas esse e seu partido caíram em tentação, diante de um poder jamais visto por eles, e mantiveram o modelo suicida de FHC. O caos que daí decorreu todos nós conhecemos e amargamos hoje. Lula e sua sucessora, Dilma, serviram de bode expiatório para todos os desmandos que vinham sendo construídos e praticados ao longo de décadas, nos moldes modernos, e séculos sob o colonialismo e o escravismo.

Hoje temos no poder um governo que representa a culminância desse processo perverso, o Governo das Trevas. Este sabe muito bem da gravíssima situação do país e administra a sua liquidação, se é que seja possível.

Voltando à metáfora do abismo, podemos considerar que eles acreditam que não há abismo tão grande que caiba o Brasil. Só que eles têm um abismo pela frente. Seu projeto além de macabro é inviável, está condenado à morte. Mas na sua loucura, ou desespero, devem estar imaginando usar o Brasil para aterrar o abismo que seria menor do que ele. Nesse caso ainda sobraria um pedaço do nosso país para o usufruto da elite perversa que assaltou o poder. São impostores, capazes de trocar o Brasil por sua salvação, no caso, talvez, uma gorda conta bancária em algum dos bancos que sugam nosso dinheiro através da dívida pública. A sua intenção pode ser representada pelo apelo do rei impostor inglês Ricardo III, “Meu reino por um cavalo”

Se há um abismo, quem cairá nele serão eles, os representantes da elite calhorda que os apoia. Quanto ao Brasil será uma poderosa, livre e justa nação, exemplo para o mundo. Quem viver verá!

Rio de Janeiro, 16/8/2017.

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