Esse post foi publicado 05 de julho de 2017 às 14:15 e está arquivado em Textos. Você pode acompanhar quaisquer respostas a esta entrada através do RSS 2.0 feed. Você pode deixar uma resposta, ou trackback de seu próprio site.
Vamos construir nosso futuro!
Arnaldo Mourthé
No momento que decidimos construir nosso futuro, ele já começa a ser construído. Nós vimos nas matérias anteriores o estado de calamidade a que chegou a Nação brasileira. Não vamos repisar nessa questão. Basta ligar a televisão, ler os jornais, ou abrir a mensagens de seu computador e a calamidade se fará presente. É preciso agora combatê-la. Mas, para tal, é necessário conhecer suas causas, ou os inimigos que a produzem, e as ideias que nós carregamos que nos conduziram a aceitá-la. Vamos tratar, a partir de agora dessas ideias, pois o inimigo nós já apontamos nas matérias anteriores e em outras publicações.
Que sociedade nós queremos para nossos filhos e seus descendentes? Essa que está aí? Certamente que não. Nós já vimos em meu livro O poder no Brasil como ela foi construída. Já no início, pela captura de índios para escravizá-los e seu massacre, devido sua resistência à escravidão. Depois foi a escravidão de africanos, que construiu sua superestrutura social, uma casta apátrida, soberba e intolerante, que nos dominou até 1930, quando o Brasil escolheu ser, através de uma revolução republicana, soberano e socialmente justo. Ela não tolerou isso. Fez alianças escabrosas, inclusive internacionais, com seus parceiros na espoliação do Brasil, e nos impôs uma ditadura militar por 20 anos.
Esgotada a ditadura, articulou-se um poder civil desfibrado, que não teve o brio que os militares tiveram de não vender a soberania nacional. Assim construíram essa monstruosidade de um governo impostor, que agride furiosamente a sociedade com sua ação para destruir a República, através do que a sustenta, a cidadania. Esse não é o poder que queremos, como também não queremos a sociedade servil que ele pretende construir, para o projeto macabro dos donos do dinheiro no plano mundial.
O quadro que nos apresenta é de calamidade, mas seus construtores não têm como vencer um povo de natureza livre e criativa, e profundamente solidário e generoso, como é o povo brasileiro. Mas é preciso que esse povo adquira a consciência do que está acontecendo e dos seus direitos de ser humano. Só assim ele se sentirá motivado a desmontar essa força e a buscar a construção de uma sociedade humanista, onde serão respeitados os princípios republicanos de liberdade, igualdade, fraternidade e nossos valores espirituais.
Não nos falta história para nos inspirar. A começar pelos índios, que viviam sua vida harmoniosa com sua comunidade e com a Natureza. Além disso, toda a construção deste país, pela comunidade de mestiços que se formou – paralelamente àquela das castas que só vieram aqui para espoliar – prova o quanto de valoroso é o povo brasileiro. Ele construiu, apesar da espoliação, esse grande país que poderá ser muito maior, em condições de conviver em cooperação com dignidade com todos os povos, e que será não apenas uma grande potência, mas um exemplo para o mundo, por sua generosidade e sua diversidade étnica e cultural.
Pois é esse país, o futuro Brasil, que nós começamos a construir a partir de hoje, através de toda a experiência coletiva e individual que adquirimos na nossa história e na nossa vida de pessoas humanas, espelhadas em princípios éticos e na fraternidade. Chegou a hora de pensarmos a sociedade que queremos e o futuro que teremos a oferecer para nossos descendentes.
Vemos a missão do homem como a busca da superação, para atingir um alto grau de consciência e de relações harmoniosas e equilibradas com seu semelhante e com a Natureza. Os grandes filósofos e líderes religiosos dedicaram suas vidas a essa causa. Também o fizeram os artistas, cujo objetivo sempre foi a sua própria superação. Assim o fazem também os poetas e os atletas. Os pais e mães de família fazem o mesmo. A superação diária para oferecer ao filho, no mínimo, aquilo que lhes foi dado e, se possível, muito mais. Em alguns momentos, a sociedade permitiu isso, noutros não. É esta a situação que vivemos hoje no Brasil e em muitos lugares do mundo. A condição de regressão do nosso estágio evolutivo, inclusive com prejuízos da ética e da moral, que precisamos recuperar coletivamente. Ter a oportunidade de participar de algo tão grandioso é uma dádiva. Raras foram as gerações que puderam fazê-lo. Essas construíram a verdadeira história da humanidade, a história da superação. Mas vamos aos fatos!
Que sociedade nós queremos? Eu proponho que discutamos a sociedade da fraternidade, o terceiro lema da República ideal. Mas, por que ela? Pela simples razão que humanidade sempre lutou pela liberdade ou pela igualdade, mas até hoje não conseguiu plenamente nem uma nem a outra condição. Isso porque não houve a prática da Fraternidade. Só uma pessoa fraterna é capaz de reconhecer o direito dos outros à liberdade e à igualdade. As alegações para não fazê-lo são as mais variadas. É difícil convencer a alguém que ele não tem direito à mesma liberdade que outros exercem. Mas o liberalismo, a ideologia da burguesia capitalista, vem conseguindo fazê-lo há quatro séculos.
Alega-se maior capacidade, iniciativa, liderança e outras qualidades dos chefes para inferiorizar os outros. Mas esse não é o fato. O cargo é fruto do poder, que se exerce eventualmente, e não apenas das qualidades individuais. Ainda por cima disso, um dos fundamentos da vida é a diversidade. Sem ela não existiria vida, pois nem todos podem suportar certas condições ambientais. Havendo a diversidade da vida, alguns seres vivos podem sucumbir em face às condições adversas, mas outros sobrevivem. É assim que a vida continua.
Sem a diversidade não haveria criatividade, a arte pereceria. Sem ela a humanidade não conseguiria conhecer tudo que necessita conhecer – da Natureza, do Cosmos, das relações sociais – para continuar sua sina. Sem ela não precisaria existir a antropologia, nem a sociologia, nem a filosofia. Sem ela não haveria a possibilidade de fazer escolhas. Tudo seria igual. Não haveria vida, apenas matéria.
Todas essas ilusões que vêm sendo difundidas como verdades, como conhecimento, não passam de ideologia, de doutrina que defende interesses, sejam de quem for. O mundo, desde os primórdios da sociedade vem sendo dominada pela ideologia, que alguns grupos sociais usam para dominar outros grupos sociais, ou defender direitos, às vezes justos, outras não. Mas a ideologia para a defesa de direitos só existe como contraponto de outra ideologia dominadora. Chegou a hora de nós superarmos a necessidade da ideologia. E essa hora começa com a adoção da Fraternidade.
Nesse ponto podemos voltar a falar sobre a organização social, as instituições. O que nos tirará desse marasmo trágico é a adoção da República, onde a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade, tenham pesos iguais. Onde todos os homens sejam fraternos, o que permitirá a eles reconhecer o direito do outro tanto à Liberdade, quanto à Igualdade. Esta sofreu ao longo de toda a história porque nossa história foi a da dominação de uns pelos outros. Mas nós queremos uma sociedade sem dominadores, portanto sem dominados. Todos iguais, na sua essência enquanto seres humanos, e diferentes na sua diversidade, uma condição essencial à vida. E é da vida que devemos tratar. Já chega das sociedades da morte.
Rio de Janeiro, 02/7/2017.
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