Nossos inimigos são o egoísmo e a prepotência
Arnaldo Mourthé
Tenho visto muitas pessoas indignadas com os desmandos e calamidades que nos assolam. Quase todas elas, apesar de quererem agir, se sentem impotentes diante do caos. Isso é natural, mas precisa ser analisado para conhecermos suas causas e efeitos. É o que tentarei fazer nesse documento. Primeiro vamos sintetizar os fenômenos no seu conjunto, os sociais, políticos e econômicos, ou psicológicos, pois estamos falando em sentimentos, vontades e ações.
Todos nós estamos mergulhados em um mundo de ideias e crenças que condicionam nossos pensamentos e ações, independentemente de nossa vontade. Porém, quando esta é potente nós conseguimos superar algumas barreiras que nos são impostas pelos costumes construídos a partir dessa condição inicial, que denominamos, de forma genérica, cultura.
Estamos vivendo em um mundo dominado pela comunicação, que por sua vez é dominada por alguma forma de poder. No nosso caso e por ordem, o econômico, o político, através das estruturas do Estado, o religioso e outras formas de crenças as mais diversas. Nós, sem saber, estamos fortemente condicionados, por toda uma parafernália de ideias e conceitos, que nem sempre são adequados para satisfazer nossas necessidades. Algumas vezes, nem para nossa sobrevivência.
Com essa introdução podemos falar da nossa condição atual, de calamidade, e de como superá-la. De início, posso afirmar que o conceito geral de impotência é puramente psicológico, é uma ilusão, que nos coloca dentro de um labirinto, aparentemente sem saída. Os conceitos que nos condicionam vêm da nossa educação desde crianças, e têm sua origem na história, também fortemente condicionados por interesses dos poderosos.
Sobre essa questão venho escrevendo há anos, mostrando o como e o porquê os homens vêm sendo submetidos, espoliados e humilhados ao longo dos milênios. Chegou a hora de falarmos do presente e apontarmos o caminho que poderá nos libertar do jugo dos “poderosos”, que o são apenas por nossa crença de que é assim que dever ser. Essa afirmação pode ser confirmada pelo estudo da história e de pensadores ao longo de milênios, de Krishna a Freud, o que, infelizmente, não é possível analisar neste artigo.
Todos os dias, os meios de comunicações nos inundam de matérias, que dizem informativas ou educativas, mas que visam apenas nos condicionar para que aceitemos docemente as condições que nos são impostas pelos poderes, constituídos ou não, mas que exercem sobre nós um domínio, às vezes invisível, mas eficaz e mesmo demolidor.
Vamos à questão do nosso poder pessoal! Hoje ele é condicionado, como explicamos acima. Vejamos alguns exemplos:
A mídia nos induz a crer que as condições críticas em que vivemos são de nossa responsabilidade como cidadãos, a começar pelos problemas do Estado. A questão central, no caso, é o descalabro financeiro. Nós pagamos de juros 50% do orçamento da União, o que significa um milhão de reais por dia. Além disso, a dívida que gera esses juros aumenta em igual valor, que corresponde a dez vezes o crescimento do nosso Produto Interno Bruto. Isto é, o problema financeiro do Estado é insolúvel, se seguirmos a política econômica que aplicamos. Não teremos condição nem de pagar o total dos juros da dívida, muito menos ela própria. As providências adotadas pelo governo para atender a esta questão grave são: a venda de patrimônios públicos, a redução da remuneração de servidores e trabalhadores, e a liquidação dos seus direitos sociais, trabalhistas e previdenciários. Ou seja, o governo administra o país como se fosse uma liquidação do Estado, como acontece com uma empresa falida. Há outras coisas muito graves, sobre as quais viemos falando há mais de vinte anos, sem que sejamos ouvidos. A mídia e os formadores de opinião por toda parte, barram a informação da verdade sobre nossa situação. Isso nos está levando ao colapso. Mas voltemos à questão de nosso poder.
O homem nasceu livre, com o objetivo de viver livre e construir, através de sua liberdade, seu futuro. Mas nenhum de nós está sozinho no mundo, nem poderia existir por si só. Nós temos origem nos nossos ascendentes. Nós nascendo de alguém. Nós temos pai e mãe. Temos também irmãos. Além disso, nossa família não é a única no mundo. Nós pertencemos a uma comunidade, a um povo. Esse povo também não está sozinho no mundo. São muitos povos que constituem muitas nações. Nós todos juntos formamos a Humanidade.
Entretanto, os exemplos de comportamento que nos ensinam não levam em consideração tudo isso. Nos ensinam que deveremos ser individualistas. Viver como se fôssemos os únicos, desconsiderando os outros, milhares mais próximos, milhões no país, bilhões no Planeta Terra. Esse individualismo teve um momento na história muito importante. Foi ele que libertou os homens dos dogmas da Igreja Romana que os submeteu por mil anos na Europa. O individualismo nasceu no Renascimento como uma forma de afirmação da pessoa face à prepotência.
Mas ele é parte de uma dualidade, como tudo que existe no mundo material. Tudo no mundo tem um contrário, o que forma uma dualidade, que rege nossa existência. Isso na filosofia chama-se dialética, um método que estuda a oposição dos contrários que permite a existência, mas quando desequilibrado produz a crise, o caos ou a morte. O contrário do indivíduo humano é a sua sociedade. Quando a indivíduo desconsidera a sociedade ele gera um conflito. Esse conflito, em certas condições, pode ser grave, uma guerra ou a morte da sociedade e do próprio indivíduo que é parte dela. A forma mais danosa do individualismo é o egoísmo, que coloca o indivíduo acima de tudo e de todos, com se fosse um deus. Uma aberração, porque a pessoa que porta o egoísmo não é o Criador, mas, simplesmente, a criatura.
Enquanto o egoísmo perdurar, não haverá solução para a humanidade. Ele perverte a pessoa, torna-a antissocial e destrutiva. É o que está acontecendo conosco. Nós somos vítimas do egoísmo, não apenas daqueles que são parte da nossa sociedade, mas do egoísmo que vem de fora, para nos submeter. O egoísmo interno é apenas o lado podre de nossa sociedade que a está levando ao colapso. O egoísmo se manifesta coletivamente como prepotência que produz a perversidade. Por isso nosso principal inimigo é o egoísmo e sua manifestação através da prepotência. Nossa política não pode ser mais vista apenas pela nossa representação através de pessoas, mas de princípios, e o maior deles é a ética, o respeito ao próximo, que para os cristão é o amor ao próximo e para os budista o amor incondicional.
Acabou o tempo do discurso demagógico, do messianismo político e dos “homens de bem”, individualistas que só pensam em si. Mas tomemos cuidado, pois a mídia já vem há muito preparando falsos lideres, todos individualistas, que são apresentados como pessoas de bem, “politicamente corretos”, ou como “personalidades”, às vezes extravagantes, verdadeiros rebeldes sem causa, que se mostram como desafiadores dos preconceitos da sociedade, mas que são de fato personalistas e individualista, sendo muitos deles cheios de egoísmo.
Não encontraremos nas eleições solução para nossos problemas, senão depois de resolvermos, internamente, nossos problemas pessoais. É preciso que comecemos a mudança para um Brasil melhor, por nós mesmos, para sermos melhores. Afinal, o Brasil só poderá ser construído por nós mesmos, e só será tão bom quanto nós mesmos, seus criadores. Façamos uma reflexão: vamos mudar-nos para sermos melhores. Assim teremos condições de mudar o Brasil.
Rio de Janeiro, 29/01/2018