O plano da Besta para o Brasil
Arnaldo Mourthé
O capital financeiro tem agido como a Besta do Apocalipse, na sua tentativa de dominar o mundo. Ele tem um plano especial para o Brasil, o país mais rico em recursos naturais do Planeta, e com mais de duzentos milhões de habitantes. Ideal para sua espoliação sob uma nova forma de servidão, ou escravidão. Para isso contam com uma casta de nossa sociedade que nasceu e prosperou explorando a mão de obra escrava.
Mas o Brasil é mais que isso. Tem cem anos a mais de história que a sede da Besta, os EUA. Somos plurirraciais, pluriculturais e desenvolvemos uma cultura própria exclusivamente nossa, que tem como principais fundamentos a tolerância e a convivência cordial com todos os outros povos. Temos sim, uma casta canalha que ainda não se identifica com o nosso povo, apesar dos nossos quinhentos anos de história.
Essa casta é o ponto fraco da nossa sociedade, que é utilizado pelos agentes da Besta, agindo através do uso abusivo do dinheiro, que corrompe para formar seu exército civil de mercenários. Além de corromper ele divide drasticamente a sociedade entre ricos e pobres, proprietários e não proprietários e elite e povo. Para a elite tudo, para o povo a Lei tirânica obtida através da corrupção.
No processo da formação de nossa Nação, as castas comandaram o processo político e econômico, que começou com a escravidão e continuou com o trabalho servil até que a sociedade se conscientizasse e revoltasse contra a tirania, a alienação e a espoliação exacerbada, praticadas por elas.
Foi feita a Revolução de 30 e, a partir daí, viemos construindo, a trancos e barrancos, uma República. Essa estabeleceu direitos sociais, dentre os quais as Leis do Trabalho e a Previdência Social. Também ampliou os direitos de cidadania, como o do voto dos alfabetizados e das mulheres, até então sem direitos políticos. A industrialização ganhou corpo com a intervenção do Estado na economia, especialmente criando as empresas estatais e implantando uma rede viária para integrar o desenvolvimento econômico, que ela promoveu com o objetivo de alcançar conquistas sociais em uma Nação soberana.
Mas esse projeto foi bombardeado e solapado pela casta dos barões, já então fortemente aliada ao capital financeiro internacional. Depuseram Getúlio em 1945 e o impediram de concorrer às eleições que ele mesmo havia convocado. Mas o candidato que ele apoiou, general Dutra, foi eleito presidente. Getúlio voltou ao poder em 1950, nos braços do povo, mas foi levado ao suicídio pelos barões por sua política desenvolvimentista, especialmente a criação da Petrobrás.
Os barões também tentaram impedir a candidatura de Juscelino e, depois dele vitorioso, sua posse. Não o conseguiram pela ação enérgica de um militar legalista e patriota, general Lott. Tentaram um governo favorável ao capital estrangeiro, com Jânio, ao qual impuseram uma política econômica favorável ao capital estrangeiro, mas ele tentou uma política externa independente e foi pressionado, a ponto de levá-lo a renunciar ao cargo.
Jango, vice-presidente de Jânio, tentou retomar a política de Getúlio, de desenvolvimento com soberania e justiça social. Enfrentou uma grande conspiração com o objetivo de denegri-lo através de uma imprensa mercenária e da corrupção eleitoral para eleger deputados favoráveis ao projeto do capital estrangeiro e das castas. Foi por fim derrubado por um golpe militar que contava com o apoio dos ricaços e dos grandes proprietários rurais, com apoio ostensivo dos norte-americanos, que chegaram a mobilizar sua marinha para um eventual apoio aos golpistas, caso houvesse resistência de Jango. Este, porém, julgou melhor não levar o país à guerra civil.
Instituiu-se uma ditadura militar por 20 anos, para aplicar a política financeira de interesse do capital estrangeiro e das castas apátridas do país. Ela foi tirana e cruel, mas foi superada por nova conjuntura internacional e pela resistência da população.
Foi costurada uma transição para a democracia, mas com objetivo de abrir o Brasil para o capital financeiro internacional, através da aplicação da política econômica neoliberal. Houve resistências. Mas elas foram vencidas. Da primeira vez, por acaso ou não, com a morte de Tancredo Neves, eleito pelo Congresso. Tancredo havia definido sua posição política escrevendo no seu discurso de posse, lido por José Sarney, seu substituto: restaurar a República e não pagar a dívida externa com a fome do povo.
Sarney ensaiou trocar a dívida externa por patrimônios nacionais inaugurando o ciclo de privatizações, mas a Constituinte vetou a iniciativa por meio de Projeto de Resolução. Mas com a eleição de Fernando Henrique Cardoso a tese do capital financeiro venceu. Não sem a corrupção de parlamentares para aprovar suas reformas. Ele adotou tanto quanto pode a política neoliberal que amarrou o Brasil ao capital financeiro internacional. Ali começou o desmonte do Estado que o governo Temer, totalmente dominado pela banca internacional, está tentando por em prática, com suas apelidadas reformas que não passam de demolição do Estado Republicano.
Lula, apesar de eleito contra a política de FHC, adotou-a por acordo com a Besta, com a contrapartida de mantê-lo no poder e realizar suas políticas sociais compensatórias, para socorrer os miseráveis, que assim deixaram de revoltar-se para ser seu curral eleitoral.
Toda a generosidade de Lula e Dilma, desmontando a Petrobrás já não era suficiente para a Besta. Ela quer mais. Quer a submissão do Brasil para ajudá-la na sua enrascada na gigantesca crise mundial, que não tem fim previsível. Para tal, era preciso derrubar o PT, já desgastado por seu envolvimento na corrupção. Esta também foi parte do projeto de dominação como instrumento de liquidação da Petrobrás, do enfraquecimento da engenharia nacional e desculpa para demolir o Estado.
Criaram o Governo das Trevas com Temer como boneco de ventríloquo tendo como “primeiro ministro”, controlador de tudo, do dinheiro e das reformas, uma cria da banca internacional que serviu por trinta anos ao BankBoston, Henrique Meirelles, o mesmo que levou o governo Lula à desgraça e o Brasil à maior crise de sua história.
Essa dupla, assistida por mercenários e corruptos, empreende a destruição da República e o avassalamento do Brasil através do crime de corrupção de parlamentares, que o grande filósofo iluminista francês, Rousseau, considerou o pior dos crimes, porque faz as leis que submetem toda a Nação. Essa ação criminosa visa tornar permanente a sangria do Brasil através do pagamento dos serviços da dívida pública, destruir a cidadania retirando direitos do trabalhador com as “reformas” da CLT e da Previdência Social. Mas qual é seu objetivo final?
Visa-se conduzir o trabalhador, totalmente desamparado e pressionado pelo pavor do desemprego, a aceitar condições indignas de trabalho e baixos salários, depois de perder o amparo da Lei, que é preterida por um acordo entre desiguais, entre ele e o poderoso patrão multinacional. O empregado que não aceitar as condições do patrão perde seu emprego, e a condição de sustentar sua família, que abraçará a miséria, a fome e o desamparo. A reforma da Previdência só facultará a aposentadoria integral aos campeões da maratona da vida, que não despedaçarem seu coração na corrida. No máximo, 10% da população conseguirá preencher as condições exigidas para uma aposentadoria digna. Os outros morrerão antes.
O dinheiro da contribuição do trabalhador para a Previdência fica com os banqueiros para emprestá-lo a juros exorbitantes, ou aplicá-lo nos títulos da dívida pública surrupiando a maior parte dos impostos arrecadados. O FGTS será liberado para o espólio do trabalhador defunto.
Toda essa história parece filme de terror, mas é a realidade que tentam criar para nós. Mas qual o objetivo final de tudo isso. Usar nossa força de trabalho, que para nós é nossa vida, como combustível para produzir mercadorias baratas para a exportação. Elas serão muitas, porque nós não teremos dinheiro para comprá-las todas.
O dinheiro vindo de fora servirá para comprar peças no exterior, produzidas pelas fábricas dos próprios importadores em diversos países, para criar divisas que são enviadas ao exterior como seus lucros, satisfazer seus vassalos internos com importação de artigos de luxo e viagens ao exterior.
O projeto deles é transformar o Brasil em uma grande fazenda, tocada por servos ou escravos, disciplinados por seus bate-paus. Será se vamos aceitar isso? Então meu amigo, comece a se mexer porque o tempo exige.
Rio de Janeiro, 26/4/2017.