Prezados amigas e amigos,
É melhor o incômodo da advertência que a tragédia da ignorância.
A frase acima está na primeira página do meu livro História e Colapso da Civilização, que será lançado em breve pela nova Editora Mourthé Ltda, organizada para editar livros sobre o momento crítico que a humanidade atravessa.
Para sua melhor informação leia abaixo o texto da apresentação do livro citado.
Arnaldo Mourthé
Livro: História e colapso da civilização
Apresentação
Este livro é o resultado de muitas indagações, uma vida de experiências profissionais e na política, e de uma ampla pesquisa da história para encontrar respostas às nossas perplexidades. Ele tem como objetos os feitos e os pensamentos dos homens ao longo do tempo e as formas que a sociedade adotou no processo civilizatório.
Nos meados do segundo milênio, a civilização medieval sofreu um colapso. Era o fim da Idade Média, decantada por alguns, denegrida por muitos. Iniciava-se um processo na busca de outra civilização, mais livre e mais humana. Mas essa civilização não ocorreu como imaginavam os sábios que viveram no período do Renascimento ao iluminismo. Houve as descobertas do Novo Mundo e de suas civilizações. Instituíram-se a República e a democracia parlamentar, que substituíram a delegação divina do poder aos reis e à nobreza. Mas o avanço dos princípios republicanos foi contido pela nova classe hegemônica, a burguesia capitalista. Os dogmas medievais, de interesse da Igreja Católica e da nobreza, foram substituídos por outros dogmas de interesse da burguesia, como o laissez faire e o mercado. O primeiro como impulsionador do progresso, o segundo como regulador da vida em sociedade.
A conquista do Novo Mundo, com a destruição de suas civilizações e a escravização de seus povos, mostra uma grande ruptura entre o pensamento humanista, nascido no Renascimento e desenvolvido pelo iluminismo, e a prática egoísta de dominação da nova sociedade em formação. É essa a principal contradição que vem permeando a história da humanidade até nossos dias. Ela se encontra na oscilação da sociedade entre a paz e a guerra, entre o crescimento e as crises da economia, entre as ditaduras e os governos eleitos pelo povo, entre as conquistas e as perdas de direitos do cidadão. Sem jamais conseguir uma estabilidade duradoura, a civilização que conhecemos foi-se consolidando, sustentada pelo modo de produção capitalista, com o qual se construiu uma estrutura produtiva envolvendo ciência, tecnologia, religião, ideologias e as instituições que nos governam.
O poder burguês cresceu e impôs o lucro como princípio fundamental para a sociedade, em detrimento das necessidades materiais das pessoas e de valores maiores, éticos, morais e culturais. O modo de produção capitalista prevaleceu por sua capacidade de desenvolver as forças produtivas. Mas ele se tornou destrutivo. A acumulação excessiva de capital, nas mãos de poucos, gerou as crises de estoque de mercadorias, que levaram à bancarrota os capitalistas menores e ao desastre social. Para superar essas crises, o capitalismo precisou expandir seus mercados. Assim, ampliou o colonialismo e, com ele, a acumulação de capital, causa das crises. Para manter esse processo perverso, a solução encontrada para o excesso de estoque foi sua dissipação. A guerra tornou-se uma necessidade para manter o sistema capitalista e sua civilização tornou-se belicista.
As crises e as guerras produziram agitações sociais que abalaram o poder burguês, obrigando-o a fazer concessões de direitos aos cidadãos. A sociedade evoluiu, e a propaganda burguesa creditou essa evolução ao sistema e às instituições construídas à sua imagem e semelhança. Travou-se uma luta ideológica intensa entre os interesses burgueses capitalistas e a população em geral. Múltiplas batalhas ocorreram dentro do próprio modo de produção, entre os capitalistas e proletários, mas também no conjunto da sociedade, entre os liberais e os republicanos, o egoísmo e a fraternidade. Ou seja, entre o interesse de grupo dominante, a burguesia, e o do conjunto da população. Entre a democracia parlamentar sob a tutela da burguesia, na qual o interesse privado se impõe ao público, e a República, que representa o primado do coletivo sobre o particular. Prevaleceu o poder burguês, que vigora até o presente, com concessões nos momentos de crise e nos períodos de pós-guerra. A burguesia impôs sua hegemonia na maior parte do mundo, mas a contradição do sistema capitalista, geradora de crises, permaneceu.
Para superar o desequilíbrio entre demanda e produção, esta sempre maior, o capitalismo precisou ampliar sua área de ação e criou a globalização. Esta derrubou fronteiras nacionais para o dinheiro e para as mercadorias, reduziu a soberania dos países, debilitou a República, corrompeu culturas e autoridades, mas não resolveu a contradição do sistema. Pelo contrário, ela tornou-a mais aguda pela aceleração da acumulação e da concentração de capital. Nos nossos dias, as 300 pessoas mais ricas do mundo possuem patrimônio de mesmo valor que a metade mais pobre dos habitantes do planeta, mais de três bilhões de pessoas. Gerou-se um volume de capital ocioso tão grande e tão volátil que não se consegue medir. Esse capital gigantesco transita pelo mundo em tempo real na busca desenfreada de lucro, em atividades não produtivas ou destrutivas.
De propulsor das forças produtivas, o capitalismo tornou-se predador por excelência, devorando o que encontra e gerando crises financeiras cada vez mais graves. Há um estado de pânico nos poupadores de todo o mundo que investem nessa aventura desenfreada e irresponsável. A crise financeira de 2008, que produziu recessão que dura até nossos dias, foi o primeiro grande sinal de alerta sobre o que poderá acontecer no amanhã não muito distante. Subproduto dessa fase do sistema, o endividamento público que está levando muitos países à incapacidade de atender a suas populações com serviços essenciais e à insolvência. Já estão em situação crítica alguns países europeus e os Estados Unidos. Esse fenômeno parece ser outro estopim da crise, que talvez seja muito mais grave que a de 2008, capaz de desorganizar a economia mundial e demolir instituições.
A história se repete cinco séculos depois, com o colapso de mais uma civilização. Esse fenômeno precisa ser analisado com todo cuidado, pois ele pode se desdobrar em situações imprevisíveis. Para tentar compreendê-lo, fomos procurar lições da história, estabelecendo paralelos entre situações semelhantes, na tentativa de encontrar nelas o antídoto para o mal que nos aflige. Assim, surgiu este livro, uma busca de respostas ao nosso megaproblema. Com esse objetivo o colocamos nas mãos do leitor. É preciso, antes de tudo, abrir uma picada na obscuridade da floresta para alcançarmos uma luz no horizonte, um raio de esperança. Nossa maior preocupação é para com a humanidade, ou seja, com todos os habitantes da Terra. Cremos na necessidade da ajuda de cada um de nós, mesmo que seja pequena, para formar uma consciência coletiva suficientemente forte, capaz de minimizar as graves consequências da grande crise civilizatória que se aproxima.
Estamos convencidos de que nossa civilização está nas vésperas de um colapso. Em consequência, é preciso que ela seja profundamente renovada. Para que isso seja um passo à frente na evolução da humanidade, urge produzir um novo Renascimento. Do contrário estaremos voltando a uma Era de Trevas. Essa opção depende de cada um de nós, do nosso nível de consciência e da nossa participação ativa. Assim, podemos dizer que o futuro de todos depende de você, caro leitor. Sua melhor opção é enfrentar o problema, e para isso preparar-se. Ou, conformado, deixar-se vencer.